ECONOMIA

Puxada pelo emprego, renda das famílias cresce e indica redução da desigualdade

Descontada a inflação, rendimento per capita aumentou 4,7% em 2024, puxado pelos ganhos obtidos com o trabalho

A notícia de que o renda domiciliar por pessoa nominal cresceu 9,3%, conforme divulgado pelo IBGE na sexta-feira, reforça a perspectiva de um crescimento inclusivo no Brasil, com queda na desigualdade de renda. Um sinal de melhora após a estagnação observada na desigualdade em 2023, mesmo em um ano de forte expansão da renda. É como avaliam economistas, após a divulgação dos dados pelo instituto.

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Essa expectativa já vinha sendo avaliada quando foram divulgados os dados do rendimento médio trimestral dos estados. Pelas contas de Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a renda domiciliar per capita do trabalho, já descontada a inflação, cresceu 7,08% no quarto trimestre de 2024 frente igual período do ano anterior. Só no Nordeste, o avanço foi de 13%. Isso num trimestre em que a inflação e o dólar estavam mais altos.

Este indicador mede exclusivamente a renda do trabalho, seja formal ou informal, e é um parâmetro relevante para avaliar a qualidade sustentável do crescimento econômico, já que não inclui benefícios sociais, como o Bolsa Família.

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— A grande novidade que esses dados vão mostrar, seguindo os dados de renda de trabalho, é a queda da desigualdade. A desigualdade, embora no menor nível da série em 2023, estava empatada com 2022 — diz Neri.

Segundo o economista, embora o crescimento da renda não tenha sido tão forte quanto em 2023, o avanço superou o PIB e trouxe sinais concretos de redução da desigualdade. Em termos reais, o rendimento médio por pessoa, já ajustado pela inflação, cresceu 4,7% em 2024.

Neri calcula que a renda do trabalho da metade mais pobre da população cresceu 10,7% em 2024. Já o do grupo intermediário, considerada a classe C ou a “nova classe média baixa”, a alta foi de 8,7%, enquanto o rendimento dos 10% mais ricos subiu 6,7%.

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A renda do trabalho leva em conta fatores como o impacto do desemprego e da informalidade. Do crescimento de 10,7% da metade mais pobre, cerca de 3,9 pontos percentuais vieram da redução do desemprego, representando mais de um terço do avanço. Outros fatores que contribuíram para esse crescimento fora o aumento da jornada de trabalho, a maior taxa de participação no mercado de trabalho e a expansão da educação e do seu retorno.

Para Neri, os dados são animadores porque mostram que o crescimento inclusivo não se deve apenas aos programas sociais, mas também ao mercado de trabalho. No entanto, para 2025, a perspectiva ainda exige cautela:

— Temos que aguardar (novos números). O mercado de trabalho não dá sinais de arrefecimento, apesar do movimento de alta da taxa básica de juros, que tem um efeito defasado.

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Renda das famílias sobe puxada pelo emprego
Um crescimento real da renda por pessoa na casa de 4,7% em 2024 significa que a renda das famílias está aumentando, inclusive acima do que cresceu a atividade econômica brasileira, já que as projeções giram em torno de crescimento de 3,5% do PIB. E este aumento, segundo Marcos Hecksher, economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), está ocorrendo, principalmente, por conta do emprego e não por conta dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

Trata-se de um cenário inverso ao observado em 2023, quando o Bolsa Família teve um papel mais determinante na elevação da renda das famílias que o crescimento do emprego. De acordo com Hecksher, a massa de rendimentos do país cresceu 5,2% em termos reais no ano ado. No entanto, quando se considera apenas a renda proveniente do trabalho, o crescimento foi ainda maior, chegando a 6,4%.

— É um aumento do rendimento das famílias puxado pelo trabalho. O trabalho está crescendo mais do que as outras rendas. Ao contrário do que aconteceu em 2023. Teve expansão do BF muito forte em 2023, e 2024 teve outros acréscimos, mas não teve esse ganho que houve em 2024.

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Apesar do avanço na renda per capita puxado pelo mercado de trabalho, Hecksher avalia que há riscos de desaceleração do emprego este ano, especialmente devido à manutenção de juros elevados, uma estratégia adotada para conter a inflação. Ele argumenta, contudo, que o Brasil precisa crescer acima da média global para recuperar o terreno perdido nas últimas décadas.

— Historicamente, o país já teve um PIB per capita superior ao da média mundial. No entanto, sucessivas crises reverteram esse cenário. No auge, em 2011, o Brasil chegou a estar 12,9% acima da média global quando ajustado pela paridade do poder de compra. Já em 2021, esse indicador caiu para 8,4% abaixo da média mundial. Se as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) se confirmarem, em 2024 esse hiato deve se reduzir para 7,5%.

Para sustentar o crescimento do PIB per capita sem comprometer o emprego, a melhor estratégia é elevar a produtividade, diz ele:

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— Produtividade sem reduzir o emprego (para controlar a inflação) é o melhor remédio. E isso pode ser feito via crescimento econômico.

Via O Globo

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