Justiça afasta presidente do Iphan após fala de Bolsonaro em vídeo
Bolsonaro afirmou ter ficado sabendo que um pedaço de azulejo apareceu durante as escavações para a construção de uma loja da Havan, o que teria motivado as demissões

A Justiça afastou a presidente do Iphan, Larissa Rodrigues Peixoto Dutra, em decisão assinada pela juíza Mariana Tomaz da Cunha, da 28ª Vara Federal.
A decisão foi tomada após o Ministério Público Federal, o MPF, pedir nesta quinta o afastamento de Dutra, na esteira da divulgação de um vídeo no qual o presidente Jair Bolsonaro afirma que as nomeações que faz para o órgão do patrimônio têm como finalidade “não dar dor de cabeça”. Ele falava para uma plateia de empresários na Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, na noite de quarta.
No vídeo, que circulou amplamente nas redes sociais, Bolsonaro diz que que demitiu diretores do Iphan, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, depois que a instituição interditou uma obra do empresário Luciano Hang, um de seus mais notórios apoiadores.
Bolsonaro afirmou ter ficado sabendo que um pedaço de azulejo apareceu durante as escavações para a construção de uma loja da Havan, o que teria motivado as demissões. “O que que é Iphan, com ‘ph’">
O MPF já havia tentado impedir a nomeação de Dutra em junho do ano ado com o mesmo argumento, mas baseado no fato de que seu marido, Gerson Dutra, atuou como segurança particular de Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018.
O casal é próximo de Leonardo de Jesus, o Leo Índio, primo dos filhos do presidente. À época, a liminar do MPF foi suspensa pelo desembargador federal Guilherme Diefenthaeler, que considerou não haver incompatibilidade da escolhida com o cargo istrativo. O jurista argumentou que ela trabalha no Ministério do Turismo há 11 anos, tendo ingressado por meio de concurso público e ocupado diversos cargos.
Um alvo constante de críticas do governo de Jair Bolsonaro, o Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, principal órgão de preservação do patrimônio cultural do país, também viveu sua maior paralisia em 65 anos na gestão atual -algo que não foi visto nem na ditadura militar.
Além dos ataques do presidente e da troca de funcionários do alto escalão do Iphan, foi sob o governo Bolsonaro que o conselho consultivo do Iphan, a instância máxima para tombamentos e registros de bens imateriais, ficou sem se reunir por um ano e oito meses.
A instância debate e dá o voto final para encaminhamento e aprovação desses processos. Sem os encontros, eles estão todos parados -o que pode acarretar em uma série de bens, materiais ou imateriais, sem o devido cuidado.