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VEJA

Gilberto Gil afirma que é sua obrigação contribuir com a inteligência artificial

No Festival Fronteiras, Mia Couto rebate que inteligência não é uma palavra que deva ser aplicada a máquinas

Gilberto Gil afirma que é sua obrigação contribuir com a inteligência artificial
Gilberto Gil (Foto: Reprodução)

Gilberto Gil e Mia Couto parecem estar em lados opostos em relação à inteligência artificial. Enquanto o músico fala dela em tom otimista, o escritor é muito mais cauteloso.

“Estou me abrindo para saber como é o alcance dela, até onde ela vai, e ver o que ela pode me dar e o que eu posso dar a ela. São as linguagens, os pensares, os dizeres, as coisas, tudo isso que abastece a inteligência artificial. É minha obrigação contribuir para esse abastecimento dela”, disse Gil no evento de abertura do Festival Fronteiras, nesta quarta à noite, uma conversa sua com o poeta moçambicano.

“A palavra inteligência aplicada à uma máquina, não acho que seja uma palavra certa. O meu medo é como nos colocamos parentes de uma coisa que pertence a um outro universo, que é uma ferramenta e tem que ser vista assim”, afirmou Couto, dizendo que existe uma tendência a biologizar a tecnologia.

“A grande pergunta é quem o dono da inteligência artificial. Não somos nós. Ela é uma ferramenta poderosíssima que tem um dono que tem outros fins que certamente não são os nossos. É o fim do lucro, da competição, de alguma coisa que pode nos desumanizar”, acrescentou.

A diferença em relação a um tema candente do presente foi talvez o momento mais animador da conversa entre Gil e Couto, a mesa de abertura do Festival Fronteiras, que acontece em Porto Alegre nestas sexta e sábado com diálogos entre intelectuais em palcos na região da praça da Matriz, no centro da cidade.

É fato que o tema proposto para a conversa entre eles, a potência do diálogo, é amplo e etéreo, e a mediadora, a jornalista Mariana Ferrão, fez um bom trabalho em tentar manter o assunto palpável e calcado no presente.

Mas foi inevitável deixar o foco se perder, num diálogo de cerca de uma hora que ou por temas tão distintos como música, biologia, novas tecnologias e as possibilidades de entendimento entre os seres humanos.

Gil deu respostas genéricas enquanto Couto foi mais direto. Em relação à pergunta da mediadora se “a gente perdeu a capacidade de dialogar”, o cantor disse não acreditar nessa possibilidade “por causa das velozes formas de comunicação que temos no mundo inteiro”. Já o escritor afirmou que a essência da humanidade é o diálogo.

“Mesmo quando brigamos é para chegar ao diálogo. A guerra faz-se para se chegar depois ao fim”, disse Couto, lembrando da guerra civil em Moçambique, que durou 16 anos, de 1976 a 1992, e matou um milhão de pessoas. O conflito apareceu diversas vezes nas falas do escritor, que lançou um romance, “Terra Sonâmbula”, situado na sua Moçambique natal logo depois que o país ficou independente de Portugal e mergulhou numa guerra interna.

“Se a gente descobre a humanidade no outro, a possibilidade de conflito fica reduzida”, disse Couto, acrescentando que o diálogo acontece quando vemos no outro uma pessoa, não “um tumor, uma ameaça”.

Esta é a primeira edição do Festival Fronteiras, realizado pela mesma equipe da série de conferências Fronteiras do Pensamento. Além das conversas entre intelectuais, o evento tem shows, exposições, lançamentos de livros e eios históricos, tudo localizado no centro de Porto Alegre. É também uma tentativa de estimular a ocupação do espaço público.

Via Folhapress