Pais temem risco a tratamentos de crianças atípicas após Unimed Goiânia romper com clínicas
No comunicado oficial, a Unimed afirma que o descredenciamento visa “manter a qualidade assistencial da rede de prestadores” e divulgou 5 unidades substitutas

Pais e responsáveis de crianças atípicas preveem colapso no atendimento terapêutico após a Unimed Goiânia anunciar, na última quinta-feira (15), de forma unilateral, o descredenciamento de três clínicas especializadas: Amplitude, CRAP (Centro de Reabilitação e Aprendizagem Psicopedagógica) e Instituto Sara Jacobi. O atendimento será encerrado oficialmente em 29 de junho.
Entre os afetados está Evelyn Mendonça, advogada e mãe da pequena Ísis, que realiza tratamento na Clínica Amplitude. “Mais de 200 famílias foram surpreendidas com essa notícia, que compromete gravemente a continuidade dos tratamentos terapêuticos de crianças com diagnóstico de autismo, TDAH, dislexia, síndrome de down, epilepsia, entre outros. Essa decisão unilateral não afeta apenas os tratamentos: ela afeta vidas”, afirma.
De acordo com Evelyn, que atua como porta-voz do grupo, a clínica Amplitude é referência no acompanhamento de crianças atípicas e conta com profissionais com os quais os pacientes já estabeleceram vínculos essenciais ao progresso terapêutico. “As clínicas ainda credenciadas pela Unimed não possuem vagas suficientes, nem estrutura para absorver essa demanda”, denuncia.
No comunicado oficial, a Unimed afirma que o descredenciamento visa “manter a qualidade assistencial da rede de prestadores” e divulgou cinco unidades substitutas. No entanto, as famílias argumentam que o redirecionamento proposto pela operadora é inviável diante da superlotação e da especificidade dos tratamentos.
Após questionamentos feitos pelo Mais Goiás, a cooperativa manteve posição de que o atendimento não trará prejuízos aos usuários e que tudo foi feito de acordo com as normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Diante do ime, o grupo tem protocolado denúncias no Ministério Público de Goiás e na ANS, além de organizar uma ação coletiva contra a operadora. Um ato público está marcado para a próxima quarta-feira (22), às 8h, em frente à sede da Unimed Goiânia, com o objetivo de denunciar o que consideram um descaso institucional com a saúde de crianças com deficiência.
Colaboradora de clínica lamenta decisão: “fomos pegos de surpresa”
Uma colaboradora que trabalha na clínica Amplitude criticou a forma como o descredenciamento foi conduzido pela Unimed. Segundo ela, o encerramento do contrato ocorreu de forma unilateral, sem aviso prévio ou justificativa clara. “O contrato havia sido renovado recentemente e, de repente, fomos informados do descredenciamento sem qualquer comunicação prévia ou contratual”, ponderou.
A mulher relata que, logo após a divulgação, muitas famílias entraram em desespero. “A clínica recebeu o comunicado sem explicações, com a indicação de outras clínicas credenciadas que, na prática, não têm vagas, carga horária ou mesmo a especialidade que essas crianças precisam.”
A colaboradora destaca ainda o impacto emocional para os pacientes. “As crianças atendidas aqui, em sua maioria, têm rigidez cognitiva e dificuldades de comunicação verbal. O vínculo terapêutico é construído com muito cuidado. Não é algo que se rompe de uma hora para outra.”
Além disso, ela aponta que a Amplitude é a única clínica credenciada pela Unimed na região do Setor Jaó. “Atendemos famílias de diversos bairros como Itatiaia, Goiânia 2, Balneário, Negrão de Lima. As clínicas indicadas não são próximas, e isso também pesa no o ao tratamento.”
Para ela, o descredenciamento foi uma decisão “abrupta e insensível”. “Fomos pegos de surpresa da pior maneira possível. Isso atinge não só os pacientes, mas também os profissionais e as famílias que confiam no nosso trabalho”, salientou. Ela ainda teme pelo futuro haja vista que cortes serão inevitáveis a partir do momento que o descredenciamento for consolidado. “Nossos empregos também estão em risco”, lamenta.
Com a palavra, a Unimed Goiânia
Em nota enviada à reportagem, a Unimed Goiânia afirma que o descredenciamento das clínicas se deu de acordo com os contratos vigentes e com as diretrizes da ANS, dentro da política de gestão da rede de prestadores.
A operadora garante que nenhum tratamento será interrompido e afirma ter ofertado opções com serviços equivalentes na sua rede própria. “As unidades parceiras estão estruturando os planos terapêuticos para as mães que buscam atendimento e estão preparadas para atender à demanda”, informou a cooperativa.
A Unimed também assegura que as decisões foram tomadas com responsabilidade e foco na qualidade, considerando a capacidade de absorção da rede e o cuidado especial com pacientes autistas. Reafirma ainda o compromisso com ética e transparência, mantendo canais abertos com usuários e a Ouvidoria para esclarecimentos.
Leia o posicionamento na íntegra:
A Unimed Goiânia – Cooperativa de Trabalho Médico informa que o descredenciamento das clínicas Centro de Reabilitação e Aprendizagem Psicopedagogia (CRAP) e Clínica Amplitude, em Goiânia, e o Instituto Sarah, em Aparecida de Goiânia, foi realizado em conformidade com o contrato celebrado, e sua política de gestão da rede de prestadores, que atende os critérios estabelecidos pela ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar. Nessa medida, os beneficiários foram informados no dia 15 de maio sobre o encerramento do contrato com as clínicas, que acontecerá no dia 29 de junho.
A cooperativa reforça que nenhum paciente terá seu tratamento interrompido e, para assegurar a continuidade dos atendimentos, ofertou opções de clínicas já integrantes da ampla rede da cooperativa, com serviços equivalentes. Todas as unidades parceiras estão estruturando os planos terapêuticos para as mães que buscam atendimento e estão preparadas para atender a demanda, sempre no intuito de garantir a disponibilidade de profissionais habilitados em número suficiente para o atendimento de todos os beneficiários.
As medidas foram tomadas com responsabilidade e foram adotados os cuidados necessários quanto à qualidade dos serviços e à capacidade de absorção da rede assistencial, de modo a garantir a continuidade do atendimento qualificado aos beneficiários, em conformidade com as diretrizes da cooperativa.
A cooperativa reafirma o seu compromisso com a ética, a transparência e a qualidade de atendimento, atenta ao cuidado especial aos pacientes autistas e suas famílias e esclarece que as crianças poderão continuar seus tratamentos nas demais clínicas disponíveis. A cooperativa permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos por meio de seus canais de comunicação e Ouvidoria, assegurando a continuidade e a excelência no cuidado à saúde.