Mangueira faz crítica velada a Bolsonaro ao falar de ‘messias de arma na mão’
A comissão de frente da Mangueira chegou impactante, com policiais truculentos revistando e agredindo os dançarinos, muitos deles negros

Com enredo que contava a história de um Jesus de “rosto negro, sangue índio e corpo de mulher”, a Mangueira fez em seu samba uma crítica velada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Também a Portela trouxe verso que foi interpretado como dirigido a ele.
“Favela, pega a visão / Não tem futuro sem partilha / Nem messias de arma na mão”, dizia a letra da escola verde e rosa. Messias é o nome do meio do presidente, que frequentemente faz símbolo de arma com os dedos.
A comissão de frente da Mangueira chegou impactante, com policiais truculentos revistando e agredindo os dançarinos, muitos deles negros, e até o próprio Cristo, que apareceu em sua forma mais conhecida, de pele branca e cabelos e barba compridos.
A performance incluiu ainda um paredão de som, roupas que remetiam ao hip-hop e inhos de funk.
Nos carros alegóricos, o Cristo também foi representado como índio em seu nascimento, ao lado de anjinhos brancos, e como morador de rua montado numa mula, com cobertas e pés sujos.
Os tambores traziam a ilustração de um Jesus negro chorando no cenário de uma favela e um helicóptero ao fundo –o frequente uso de aeronaves em operações policiais na gestão Wilson Witzel (PSC) é bastante criticado em comunidades do Rio.
Diferentes alas representaram a intolerância. As baianas remetiam a religiões de matrizes africanas, um grupo lembrando Maria Madalena levava uma placa com o arco-íris LGBTQIA+ dizendo “Vai tacar pedra">
Campeã do ano ado, a escola saiu da avenida sob poucos aplausos, bem mais tímidos do que na edição anterior, quando um samba-enredo sobre “a história que a história não conta” contagiou a plateia com referências à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no Rio, e outras figuras negras e indígenas.
O tom crítico à direita e a referência ao “messias de arma na mão” não aram despercebidos dos políticos de esquerda nas redes sociais.
Manuela Dávila (PC do B) citou o trecho para comentar: “Negro e jovem, crucificado e cravado de balas, o enredo da Mangueira buscou a reflexão: e se Jesus nascesse hoje">